A esquizofrenia (SCZ)
é um distúrbio crónico e complexo
para o qual ainda não existe um
boimarcador. O diagnóstico da doença
é baseado principalmente numa
entrevista clínica sem qualquer
apoio biomolecular que possa
aumentar o grau de confiança no
diagnóstico e guiar no prognóstico.
Para além disso, doentes resistentes
à medicação precisam de ser
submetidos a uma terapia longa e
infrutífera antes de iniciarem um
tratamento com clozapina, o que
parece estar longe de uma medicina
personalizada e preventiva.
Vários potenciais
biomarcadores genéticos, proteicos e
metabólicos foram propostos
anteriormente na literatura ou até
comercializados. No entanto, a sua
falta de robustez levou à sua
remoção do mercado ou à
não-aceitação para utilização
clínica. Existe assim uma
necessidade clara de um estudo
aprofundado que possa combinar todas
estas abordagens (entrevista
clínica, proteínas, metabolitos e
genes) num único modelo preditivo. É
precisamente isto que este projecto
de investigação propõe realizar,
juntando uma equipa clínica com
longa experiência no diagnóstico de
milhares de doentes, com um registo
científico em psiquiatria genética e
pertencente a consórcios
internacionais, para além de estar
envolvida no melhoramento dos
procedimentos de entrevista. A
equipa de espectrometria de massa é
laboratório de referência do maior
vendedor mundial desta tecnologia,
com um registo científico em
proteómica e vários projectos de
contratação privada em traçar perfis
metabólicos e quantificação dos
mesmos. Por último o projecto inclui
uma colaboração internacional com
Pedro Beltrão, do EMBL.EBI, que será
responsável pela supervisão da
análise genética e desenvolvimento
do modelo preditivo.
O projecto de
investigação será baseado na
caracterização extensiva clínica com
procedimentos de diagnóstico actuais
e de acordo com informação de
orientações internacionais. A equipa
do biobanco tem experiências como
laboratório certificado
internacional para doenças
neurodegenerativas , ao abrigo do
Joint Programming for
Neurodegenerative Diseases (JPND),
dedicado à padronização de
biomarcadores (BIOMARKAPD e
DEMTEST). Cada amostra individual
será caracterizada com análise
sanguíneas de rotina e
complementadas com imunofenótipo
usando um painel de marcadores e
citometria de fluxo em colaboração
com o Instituto Português do Sangue.
Depois serão realizados três estudos
em paralelo: proteómica,
metabolómica e análise direccionada
de genes associados a SCZ. O perfil
proteómico será realizado no soro e
no plasma utilizando um equalizador,
ProteoMiner, mas igualmente com
recurso a kits de enriquecimento de
péptidos fosforilados e com
cisteínas modificadas (usando
iodoTMT). Para além disso, uma
análise exaustiva será realizada às
células mononucleares do sangue,
dado que existe uma crescente
evidência para a relação entre a SCZ
e o sistema imunitário. O screening
metabólico irá cobrir as três
amostras anteriores, com a novidade
da utilização de abordagem de
SWATH-MS no screening e não apenas
para a quantificação. Além disso,
uma análise direccionada ao
metabolismo de alguns
neurotransmissores será realizada
para avaliar o desequilíbrio destes
ou a sua modulação pela terapia. A
abordagem genética será direccionada
para genes anteriormente
identificados como estando
relacionados com a patologia, mas
cuja utilização sozinha não permite
o diagnóstico, sendo que a nossa
proposta aponta para que seja a
combinação de vários parâmetros com
diferentes factores de ponderação
que poderão levar à construção do
modelo preditivo. Este é o principal
objectivo da equipa de
bioinformática. Estes múltiplos
factores serão validados com uma
população diferente do maior
hospital do país.
A novidade do
projecto não está em cada uma das
tarefas individuais, mas na
caracterização exaustiva realizada a
cada doente, com uma capacidade de
integração de toda a informação
proveniente de quatro screenings
independentes.
É
espectável obter um modelo preditivo
baseado num reduzido painel de
biomarcadores com informação
suficiente para ser usado no
diagnóstico e prognóstico da SCZ,
sozinho ou em combinação com a
entrevista clínica. Para além disso,
doentes já diagnósticos com a
patologia irão beneficiar com a sua
assinatura molecular indicando-os
como alvo da terapia prescrita, ou
sem capacidade de resposta a esta,
assim como o seu potencial de
progressão da doença. Acreditamos
que para além do enorme retorno
clínico que este projecto ambicioso
mas exequível apresenta, haverá
igualmente um enorme impacto
económico, dado que os doentes com
SCZ têm dificuldades no local de
trabalho e na sua integração na
sociedade.
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